Com escuta, partilha e um abraço coletivo, a Terapia Comunitária Integrativa (TCI) tem impactado milhões de vidas no Brasil e no mundo - e é reconhecida como tecnologia social por sua força de cuidado comunitário.
A fundamental PRESENÇA HUMANA
Em tempos tão tecnológicos, em que predominam as relações online — muitas vezes frias, distantes e artificiais — a Terapia Comunitária Integrativa (TCI) aproxima pessoas reais, com suas histórias e desafios, para uma conversa transformadora de ajuda mútua. No grupo, disposto em roda, todos participam de igual para igual: falam, ouvem e acolhem.
O participante que deseja pode se abrir, compartilhar suas experiências, frequentemente marcada por dores. Sem julgamentos, essa narrativa é escutada atentamente, enquanto o terapeuta conduz a roda, estimulando a troca de experiências semelhantes. Assim, todos se ajudam, construindo um espaço de empatia, crescimento e protagonismo.
"A TCI é para todos: crianças, adolescentes, adultos e idosos. Já tivemos rodas com jovens em escolas, mulheres em situação de violência, trabalhadores da saúde, comunidades indígenas, pessoas em situação de rua, entre muitos outros. Onde houver sofrimento e desejo de escuta, a TCI pode chegar com seu abraço coletivo." Dra. Milene Zanoni, Presidenta da Associação Brasileira de Terapia Comunitária Integrativa (ABRATECOM)

Da periferia para o mundo: como surgiu a TCI?
Em uma comunidade simples da periferia de Fortaleza, no Ceará, nascia, em 1987, uma nova forma de cuidar da dor humana.

Ali, o psiquiatra e antropólogo Adalberto Barreto percebeu algo essencial: muitas vezes, o sofrimento não pede remédios, mas sim acolhimento, escuta e partilha.
Foi assim que surgiu a Terapia Comunitária Integrativa (TCI) — uma prática de saúde emocional que promove rodas de conversa e escuta ativa, onde cada pessoa é valorizada por sua história, sua dor, sua cultura e sua sabedoria.
A ideia é simples e poderosa: criar redes de apoio nos próprios territórios, onde todos possam ser escutados, acolhidos e reconhecidos como protagonistas da própria vida.
Uma rede de milhões
De lá para cá, a TCI se espalhou pelo país e pelo mundo. Estima-se que mais de 30 mil terapeutas comunitários integrativos tenham sido formados por meio da ABRATECOM (Associação Brasileira de Terapia Comunitária Integrativa), atuando em escolas, postos de saúde, igrejas, universidades, comunidades e até em zonas de guerra.
Cada terapeuta conduz dezenas de rodas — algumas em praças públicas, outras em ambientes institucionais.
O resultado? Milhões de pessoas já foram acolhidas pela TCI, no Brasil e em mais de 40 países, nos continentes América (do Sul, Central e do Norte), Europa, África e Ásia.
Somente na América latina, são mais de 50 Polos de Terapia Comunitária Integrativa.

Quando uma roda muda uma vida
Para quem participa de uma roda de TCI, o efeito pode ser profundo. Em relatos de pessoas atendidas, é comum ouvir palavras como “renascimento”, “força”, “libertação” e “pertencimento”. Ali, todos têm o direito de falar e de serem ouvidos com respeito, sem julgamento. E, como dizem os facilitadores: curar o outro também é um modo de curar a si.

A mineira Maria Lucia de Andrade Reis conheceu a TCI em 2001, quando morava no Rio Grande do Sul, em um evento chamado “Cuidando do Cuidador”, no qual o prof. Adalberto Barreto apresentou a terapia comunitária e divulgou o curso de capacitação de pessoas para conduzir as rodas. Em 2002, ela foi ao Ceará fazer o curso e, desde então, a TCI faz parte da sua vida. Atualmente, Maria Lucia é Terapeuta Comunitária em Minas Gerais, sua terra natal.
“A TCI me transformou, creio eu, numa pessoa melhor, mais justa comigo, mais humana, com uma escuta mais atenta, quando você se abre para realmente escutar a outra pessoa, sem julgar, apenas acolher o que ela está te dizendo.”
“Um dos maiores benefícios da TCI é a pessoa perceber que não está só, aquilo que ela está passando, mais pessoas vivenciaram e deram a volta por cima. Outra questão importante é o que chamamos de empoderamento - quando a pessoa se dá conta da força que tem - e a valorização dos seus recursos pessoais e culturais.”
“A TCI está em minha vida, assim como o ar que eu respiro. Essa história eu conto com mais detalhes no meu livro ‘Quando me encontrei, voei’, fruto da minha tese de doutorado.”

Presente no SUS
Desde 2017, a TCI integra oficialmente a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC), do Ministério da Saúde.
É a única prática genuinamente brasileira entre as incluídas nessa política e está disponível no SUS, nas localidades onde há terapeutas comunitários certificados por instituições credenciadas pela ABRATECOM.
"As Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PICS) são abordagens terapêuticas que têm como objetivo prevenir agravos à saúde, a promoção e recuperação da saúde, enfatizando a escuta acolhedora, a construção de laços terapêuticos e a conexão entre ser humano, meio ambiente e sociedade. Atualmente, o Sistema Único de Saúde (SUS) oferece, de forma integral e gratuita, 29 procedimentos de Práticas Integrativas e Complementares (PICS) à população".
Reconhecimento nacional como tecnologia social

Em 2024, a TCI foi premiada como Tecnologia Social pela Fundação Banco do Brasil, sendo uma das cinco vencedoras entre mais de mil iniciativas inscritas. O reconhecimento valoriza práticas que são acessíveis, sustentáveis e que de fato funcionam na vida real.
“Tecnologia social é algo criado com o povo, para o povo. E que transforma de verdade”, explica a Dra. Milene Zanoni, em destaque na foto. O prêmio permitirá expandir ainda mais a formação de terapeutas, a criação de materiais educativos e a realização de encontros regionais.
"Receber esse prêmio é como dizer para o Brasil e para o mundo: cuidar com afeto, escuta e solidariedade funciona sim!" Dra. Milene Zanoni, presidente da ABRATECOM
Quero ser um Terapeuta Comunitário Integrativo, e agora?
Para se tornar terapeuta comunitário integrativo, é necessário fazer o curso de capacitação reconhecido pela ABRATECOM. A formação está aberta a qualquer pessoa maior de 18 anos, mesmo sem formação acadêmica. O curso tem cerca de 240 horas e inclui teoria, vivências, rodas práticas e intervisões.
“O mais importante é ter desejo de contribuir com a sua comunidade e acreditar no potencial de transformação do ser humano”, destaca a Dra. Milene Zanoni.
Nos últimos cinco anos (2020–2024), foram formados 1.447 novos terapeutas comunitários.

Depoimento da dra. Milene Zanoni, presidente da Abratecom.

“A TCI transformou a minha vida. Eu encontrei nela não só uma ferramenta de cuidado, mas um caminho de renascimento. Aprendi que não preciso salvar ninguém, apenas estar presente com escuta e respeito.
Ao facilitar rodas, percebi que somos todos vulneráveis e potentes ao mesmo tempo, e que curar o outro é também um modo de curar a si.
A TCI me ensinou que a força está nas histórias compartilhadas, e que ninguém está sozinho. Como mulher, professora, mãe e pesquisadora, carrego comigo essa prática como um modo de viver.”

- Na Europa (10): 1 na Bélgica, 5 na França, 1 na Holanda, 1 em Portugal e 2 na Suíça.
- Na África (6): 3 na Costa do Marfim e 3 em Mali.
- Na América do Norte (1): nos Estados Unidos.
Links de acesso:
Link de acesso à Rede TCI em espanhol: redtciesp.org/.
Essa Rede não é vinculada à ABRATECOM, mas alguns polos latinos da Rede brasileira participam das atividades da Rede TCI em espanhol. Há encontros mensais de intervisão com a participação do Professor Adalberto Barreto.
Fonte: 2024 - CDC/ABRATECOM



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