Para iniciar o assunto sobre finanças e mulheres, vamos usar a imaginação. Visualize uma pessoa em um shopping: olhos brilham com as vitrines que parecem sussurrar seu nome; as cores, as luzes, aquelas placas escritas “PROMOÇÃO” ou apenas “OFF”... E a atenção se volta para aquilo que está enchendo o coração de alegria naquele momento, enquanto a carteira se esconde, prevendo uma batalha épica.

Bem-vindas e bem-vindos ao mundo da educação financeira!

Agora, responda estes questionamentos com sinceridade: quando estava lendo o parágrafo anterior, na frase olhos brilham com as vitrines que parecem sussurrar seu nome, você pensou imediatamente na imagem de uma mulher? Acertei? E no final do texto, quando disse enquanto a carteira se esconde, prevendo uma batalha épica, você pensou na figura masculina? Acertei de novo?

É sobre isso que te convido a refletir.

Por que a mulher é sempre associada a gastos impulsivos? Será que realmente é assim ou as finanças pessoais estão sendo observadas apenas em partes e não no todo?

Que tal pensar questões financeiras fora da caixa?

No mundo contemporâneo, as mulheres de fato assumem um papel de destaque nas relações de consumo. O DIEESE (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) afirma que a maioria dos lares brasileiros é chefiada por mulheres, portanto são elas as responsáveis pelas decisões de compra.

Essa é a primeira pista para desvendarmos esse mistério: mais mulheres com poder de decisão nos lares e de ação de compra da família.

A mulher vem ocupando mais espaço no mercado de trabalho, consequentemente, houve aumento de renda. A mulher é quem cuida da casa, compra itens de vestuário para si, para os filhos e para o cônjuge; compra utensílios domésticos, itens de alimentação e limpeza... É a responsável por comprar os presentes da família, dos amiguinhos do filho, os materiais escolares, dentre outros gastos mensais.

Todo esse processo evidencia (e justifica) que a mulher gasta mais que o homem.

Vamos combinar: as mulheres são mais habilidosas no planejamento, mais cuidadosas e conseguem gerenciar o lar com maestria.

Elas são mais pacientes para pesquisar e comparar preços, avaliar produtos e tornar a compra muito mais vantajosa.

Não há como pensar uma economia onde o consumo não seja feito, em sua maioria, pelo público feminino, que, por natureza, é mais propenso ao consumo, e isso tem se potencializado com o aumento de suas obrigações.

No entanto, os desafios da educação financeira estão em todos os ambientes e não escolhem raça, cor ou sexo; eles simplesmente chegam.

Educação Financeira para mulheres: elas levam a sério

Ao longo dos anos, atuando como educador financeiro, atendi muitas pessoas e famílias, e posso falar de uma estatística própria, do "Instituto EF de Estatística" (eu mesmo!): 80% das pessoas atendidas são do sexo feminino, e o total de assertividade e foco nas mudanças necessárias acontecem em mais de 90% dos casos com as mulheres.

Portanto, posso dizer, sem medo de errar, que as mulheres realmente gastam mais, porém, são bem mais organizadas e focadas do que os homens.

Caso real

Ela fez o trabalho mais difícil: as mudanças.

Tive uma cliente em 2017 que me marcou muito. Ela tinha um bom emprego, com um salário de dar inveja, mas estava em um grau de endividamento elevadíssimo, daqueles que você olha de fora e diz: “não vai ter jeito, já era”.

Fizemos um trabalho sensacional, com medidas extremas, e um tempo depois ela precisou se mudar, ir para outro estado; perdi contato. Passado uns dois anos, recebo uma ligação: era ela. Me ligou para dizer que estava comprando a casa própria. Lembro-me dessa ligação como se fosse hoje; sei exatamente onde eu estava.

Fiquei muito feliz, não que tenha sido minha a responsabilidade; definitivamente, não! Ela fez o trabalho mais difícil: as mudanças. Ver uma vida se transformar desse jeito é muito gratificante.

Planejamento familiar

Para melhorar o comportamento financeiro, é fundamental que mulheres e homens reflitam sobre seus hábitos de consumo.

Ter responsabilidade na hora de consumir significa adquirir o que se deseja e o que se pode ter, sem cair na armadilha do endividamento.

Além disso, é preciso pensar no planejamento familiar; os membros da família devem trilhar o mesmo caminho; a parceria financeira entre casais é crucial.

Embora exista a fama de que a mulher é gastadeira, na verdade, ela é o alicerce do lar. Caminhando junto com o cônjuge, o sucesso financeiro é mais provável.

Gustavo Cerbasi, em "Casais Inteligentes Enriquecem Juntos", destaca a importância de planos financeiros conjuntos para alcançar objetivos comuns.

Para finalizar, quero deixar um trecho da canção de Milton Nascimento (Maria, Maria), que traduz perfeitamente a força da mulher no trabalho, na família, nas finanças e na vida:

“Maria, Maria é o som, é a cor, é o suor. É a dose mais forte e lenta de uma gente que ri quando deve chorar. E não vive, apenas aguenta”

Texto de Edisio Freire. Edição de texto e imagem de Michely Massa. Clique e conheça mais sobre o autor!

Edisio Freire
Economista, especialista em Finanças Comportamentais e Educação Financeira